Minha História
Estava sozinho no meu quarto, era tarde da noite e ainda estava acordado. De repente, pensei que estava morrendo. Na verdade, senti a certeza de que a minha hora tinha chegado. Com os pensamentos acelerados, passei a despedir de tudo e de todos, inclusive do meu vídeo-cassete. Mas não morri, nem me lembro bem das horas seguintes até cair no sono.
Tinha 8 anos e estava tendo a minha primeira crise de pânico.
A partir daí, foram diversas outras crises de pânico. Nesse sentido, minha infância e minha adolescência foram atípicas. Sempre fui sensível, mas também corajoso para, por exemplo, não deixar de ir no cinema com meus amigos mesmo com o medo da próxima crise. Não foram poucas às vezes que ia parar no hospital com meu pai durante uma crise, com a "certeza" de que me faltava oxigênio.
Hoje, consigo ter mais clareza num padrão que desde aquele tempo já se repetia: absorvia alguma informação relacionada à doença ou morte, me impressionava e, inconscientemente, externalizava sintomas no meu corpo algum tempo depois.
Alguns acontecimentos
Ao tentar explicar as causas da minha Síndrome do Pânico, sempre me recordo de algumas lembranças do meu passado. Lembro-me da Sarinha, uma vizinha uns 2 anos mais velha do que eu, que morreu de câncer mais ou menos na época da minha primeira crise, quando eu tinha 8 anos. Outro dia, conversando com a minha mãe sobre essa lembrança, ela buscou na memória dela que teve uma vez que eu e outros vizinhos fomos visitar a Sarinha na casa dela. Ela tinha leucemia, se me lembro bem, e vivia acamada. Apenas de lembrar da cena dessa visita, ainda sinto um certo desconforto.
Acredito que tive um contato intenso com a morte precocemente, sem a maturidade necessária para lidar com essa exposição mais intensa. Não foi apenas com a Sarinha. Alguns anos depois, outro conhecido da época do tênis, morreu. Não era muito próximo dele, mas lembro do baque que seu aneurisma teve em mim. Até hoje não esqueço que ele estava jogando bola quando foi beber água num bebedouro durante um intervalo e se foi. Depois de 10 anos, quando eu estava jogando bola no clube da faculdade, ainda lembrava do "Tupetinho de Ouro" quando ia me refrescar no bebedouro entre uma pelada e outra.
Talvez, ainda tenham outras lembranças que podem ter me afetado, mas a última que me lembro da minha adolescência foi quando perdi meu amigo e companheiro de quarto na época das viagens de tênis, o Rafa. Ele se foi após ficar internado depois de um acidente muito sério de carro. Não consigo me lembrar do Rafa sem seu sorriso característico, mas também não consigo esquecer que passei um dia inteiro chorando seu acidente.
A proximidade com o Rafa me fez sofrer muito com a sua morte, mas hoje percebo que sofri mais no coração do que na mente com a morte do Rafa, até porque já devia ter uns 18 anos. Mas na época da Sarinha e do "Tupetinho de Ouro", ainda era criança e me era desesperador a ideia da morte estar tão próxima e iminente.
Minhas crises
Anteriormente, citei o medo que tinha de ir no cinema por medo de uma próxima crise. Depois, aprendi que a Síndrome do Pânico é marcada pelo medo, principalmente pelo medo de morrer e pelo medo da próxima crise. Como disse, passei por diversas outras crises além daquela aos 8 anos. Não diria que foram centenas, mas talvez dezenas de crises espaçadas em 2 décadas.
Estou correndo com a história, e com uma história das lentas. Agora, em retrospectiva, tenho apenas amostras de todo meu sofrimento, felizmente e graças a Deus.
No geral, o espectro das minhas crises variavam de "estou com alguma doença" para "estou morrendo agora".
No início do espectro, já "tive" de tudo: tumor cerebral, inúmeros cânceres, cardiopatias etc. Agora, quando a crise chegava no "estou morrendo agora", era sempre muito parecido.
Meus pensamentos se aceleravam até que perdesse o controle deles. E não eram pensamentos bons. Pelo contrário, eram catastróficos e razão nenhuma me tirava da cabeça que estava morrendo, que estava acontecendo.
Até porque os sinais confirmavam: meu coração batia muito forte e rápido, minhas respiração era ofegante, mas parecia sempre insuficiente, faltava ar, e parecia que faltava oxigênio também.
Essas crises eram sempre tão desesperadoras porque eram sempre tão reais. Estava lutando para sobreviver, não queria partir e valia de tudo, inclusive de gestos repetitivos que inconscientemente aliviavam a minha respiração.
A presença de pessoas que me amam, me ajudava, mas não muito porque não ouvia uma letra das suas frases de apoio: "Fica calmo, está tudo bem" ou "você não tem nada", "você não está morrendo" etc.
Normalmente, essas crises se prolongavam por muitos minutos, normalmente por horas. Eram pesadas, muito intensas. Às vezes, tinha até uma "ressaca" no dia seguinte.
Mas sempre tinha o dia seguinte.
Primeiras tentativas
Durante esses 20 anos, foram várias tentativas para identificar e resolver meu problema.
Uma das primeiras foi uma terapeuta na minha pré-adolescência, a Mércia. Não fizemos muitas sessões, pelo menos não que me lembre, mas foram suficientes para ela me apontar para uma pressão por resultados, principalmente por parte do meu pai. Talvez, isso não tenha tanto a ver com a Síndrome do Pânico, mas foi o que me lembro dessa terapia.
Até então, ainda não tinha tido um diagnóstico da Síndrome do Pânico, mas depois da Mércia, visitei outros profissionais, como psiquiatras. Acredito que meu primeiro diagnóstico da SP tenha vindo de um desses psiquiatras, assim como minha primeira prescrição de um remédio.
O Frontal era um comprimido pequeno, mas 1/4 do comprimido já era potente. Fui alertado que era apenas para as crises porque viciava. Foi bom ter sido alertado porque tomei poucas vezes, talvez nem 10 vezes no total. Evitava, guardava para as crises.
Superação
Aos 8 anos, entrei no "túnel" da Síndrome do Pânico. Demorei um pouco mais de 20 anos para sair do outro lado e passar a viver na "luz". E a boa notícia é que aprendi um "caminho" para sair, e você não precisa de 20 anos para sair também.
Antes de tudo, preciso dar glória a Deus. Lembro-me de um momento em que, embora não pensasse em suicídio, sentia que a vida não estava legal. Dobrei meus joelhos e, chorando, pedi ajuda para Deus. Foi algo impressionante: em menos de uma semana após esse pedido de socorro, Ele iniciou meu processo de cura.
Não foram os remédios que me ajudaram a superar a Síndrome do Pânico, até porque hoje sei que eles apenas aumentam a dependência psicológica envolvida na Síndrome do Pânico.
Como está lendo a minha história até aqui, já sei que você tem aí dentro de você pelo menos uma semente de algo que foi crucial para minha superação da Síndrome do Pânico: conhecimento.
Hoje sou grato pela minha jornada de conhecimento e autoconhecimento de 2 décadas. Não foi uma jornada fácil, e sei que a sua também não está sendo, mas foi apenas por conta dessa jornada que superei a Síndrome do Pânico.
Não tenho crises desde 2021. Ainda mais importante, não sinto medo de ter uma crise. E, ainda mais importante, hoje vivo bem. Sou grato pela vida e... pela Síndrome do Pânico!
No amor não há medo; pelo contrário o perfeito amor expulsa o medo [...]
1 João 4:18