Em cartaz, agorafobia e despersonalização
Tinha uns 14 anos e estava no cinema com meus amigos. Não me recordo qual era o filme, mas lembro que era semana de estreia. A sala estava cheia e com sobrecapacidade.
Já estava me sentindo ansioso desde antes de entrar na sala. Nesse dia, tinha muita gente no cinema do Pátio Savassi. Era final de semana, talvez sexta ou sábado à noite.
Tinha muita gente nas filas dos ingressos e andando nas áreas comuns do cinema. Já tinha ido neste cinema muitas vezes, mas esse dia estava diferente, estava parecendo mais um show.
Conseguimos ingressos, mas não conseguimos lugares. Nessa época, os lugares ainda não eram marcados, e nos juntamos às muitas pessoas que preenchiam sentadas as escadas da sala do cinema.
Entre uma espremida de pernas e outra para dar espaço para as pessoas que estavam andando pelas escadas ainda à procura de lugares, percebi que estava muito ansioso, com os pensamentos acelerados — para não falar descontrolados — e minha respiração também já não estava normal.
Em minutos, todas as sensações típicas das minhas crises se intensificaram e percebi que estava tendo uma crise pânico.
No post Minha história, conto um pouco de como eram as minhas crises da Síndrome do Pânico.
Não era a primeira vez, mas dessa vez tive uma outra sensação atípica das minhas crises: a despersonalização. Estava me vendo de fora, de fora do meu corpo. Era como se eu fosse outra pessoa me observando, me fitando.
Foi uma sensação muito estranha, e que estava deixando a minha percepção de descontrole ainda maior durante a crise. Na verdade, todas as sensações estavam se escalando a cada minuto que se passava, assim como a certeza de que estava morrendo.
Então, precisava fazer alguma coisa, "lutar" pela minha vida. Tomei coragem, juntei algumas palavras e avisei para meus amigos que não estava bem, que precisava de ir ao banheiro.
Tomei mais coragem ainda para levantar e tentar sair daquela sala de cinema lotada. Ninguém ali sabia de nada que estava acontecendo, ninguém estava sabendo que algo "trágico" estava acontecendo comigo.
No banheiro, ainda estava me "vendo de fora", e nessa hora já tinha ligado para o meu pai me buscar. Alguns minutos depois, com toda a presteza e paciência de sempre, ele chegou e...
Não foi nesse dia que morri.