Morrendo de fome
No post "Minha história", conto que uma das minhas chaves para superar a Síndrome do Pânico foi o (auto)conhecimento que adquiri em mais de duas décadas convivendo com esse transtorno.
Dentro desse (auto)conhecimento, certamente existe uma categoria para os gatilhos de crises. Sendo naturalmente observador, com o tempo fui aprendendo alguns contextos ou fatores que contribuíam para as minhas crises acontecerem.
Aqui, por exemplo, conto como a cafeína afeta meus pensamentos e já funcionou como um gatilho para diversas crises, principalmente antes de conhecer e autoconhecer seus efeitos no meu organismo.
Neste post, vou apresentar outro gatilho para crises que também demorei muito para conhecer e compreender: a fome.
A hora do almoço chegou, mas por conta de uma demanda que acabou se prolongando no trabalho, você ainda não pôde almoçar. Seu café da manhã também quase não existiu, mas você não lembrava disso.
O fato é que sua fome chegou. No início, era só seu estômago roncando, e isso era fácil de administrar. Mas, ainda impossibilitado de almoçar, você passa a se perceber um pouco fraco de fome, um pouco mais vazio.
Como saco vazio não pára em pé, e com você prestando cada vez mais atenção nas sensações que se intensificavam por causa da fome crescente, você inconscientemente chega numa conclusão:
Estou sucumbindo, vou desmaiar...
Vou morrer!?
Esse relato um pouco simplista resume bem o que já aconteceu comigo várias vezes — interpretava inconsciente e tragicamente sensações naturais da fome, "engatilhando" uma crise de ansiedade.
Em retrospectiva, demorei muito para aprender com o que acontecia várias vezes. Parece óbvio, mas demorou a ser óbvio pra mim, inclusive precisei de encontrar despretensiosamente em algum lugar alguém falando que ficar sem comer era gatilho para quem tinha Síndrome do Pânico.
Aí sim, tudo passou a fazer mais sentido. Agora, mais consciente e com esse (auto)conhecimento, passei a ter uma compreensão maior das sensações de quando estou com fome ou muito tempo sem comer.
Agora, simplesmente tento percebê-las com a devida naturalidade, como um mero sinal de que preciso comer, e também presto mais atenção nas minhas refeições, que por vezes já foram muito ignoradas.